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Luiza Neto Jorge
Texto de Gastão Cruz

 

 

 

Luiza Neto Jorge nasceu em Lisboa, a 10 de Maio de 1939, sendo os seus pais Ricardo Jorge Rodrigues, advogado, e Adriana Neto. O irmão, Vítor, nasceria seis anos depois.

Após a separação dos pais, fica a viver com o pai, no então chamado Bairro das Colónias, aos Anjos, onde frequenta a escola primária. Há referências a este período no poema autobiográfico “Anos quarenta, os meus”: a proximidade do Castelo de São Jorge (“De eléctrico andava a correr meio mundo/subia a colina ao castelo-fantasma”), os problemas respiratórios (“[...] E sofria de asma//alma e ar reféns dentro do pulmão”), a instrução primária salazarista (“Salazar três vezes, no eco da aula”), os jogos de infância no Jardim dos Anjos (“E o meu coito quando jogava a apanhar/era nesse tronco do jardim dos anjos”), o fim da guerra (“acabou a guerra meu pai grita ‘Viva’”), os passeios até ao Terreiro do Paço (“Deflagram no rio golfinhos brinquedos//Já bate no cais das colunas uma/onda ultramarina onde singra um barco/pra cacilhas [...]”), as idas ao Cinema Lis, na Avenida Almirante Reis (“No cinema lis luz o projector/e o FIM através do tempo retine”).

A seguir ao falecimento do pai, passa a viver com a mãe e o irmão, na Rua da Misericórdia, nº 17 – 4º Esq., que seria a sua residência até ao fim da vida (a Rua do Mundo, que menciona no título de um poema de A Lume, utilizando a designação que a artéria anteriormente tivera, na primeira república, em referência a um jornal com esse nome).
Depois de um período de doença, que levaria a internamento hospitalar, frequenta o Externato Feminino Francês, situado na Rua do Salitre, onde completa os estudos liceais, indo fazer o exame do sétimo ano ao Liceu D. João de Castro; os primeiros anos, fizera-os no Liceu Dona Filipa de Lencastre, no Arco do Cego.

Em Outubro de 1957, ingressa no curso de Filologia Românica da Faculdade de Letras de Lisboa, que seguiria até 1961, quando o interrompe para ir leccionar no Liceu de Faro, no ano lectivo de 1961-1962. Nessa cidade vive com António Barahona, com quem, entretanto, casara, e fortalece laços de amizade e convívio assíduo com António Ramos Rosa, Casimiro de Brito e José Afonso, este último professor na Escola Comercial e Industrial de Faro.

Em 1960 sai na colecção A Palavra, de Faro, o seu primeiro conjunto de poemas, a plaquette A Noite Vertebrada, e, no ano seguinte, participa em Poesia 61, com Quarta Dimensão. Por altura da saída desta publicação, declara ao Diário de Lisboa (25 de Maio de 1961): “A moderna poesia ocidental tem raízes bastante fundas no surrealismo. [...] Parece-me que, entre nós, o surrealismo ainda terá a sua razão de ser – como total destruição de cânones bafientos, como reacção a um ambiente social rígido. Depois será talvez mais fácil, mais possível, a total reconstrução, formas e ideias novas.”

A partir dos finais de 1962, na sequência do seu divórcio de António Barahona, passa a viver quase permanentemente em Paris, onde exerce diversas profissões, entre as quais a de empregada de livraria. Publica, em 1964, 1966 e 1969, respectivamente, os livros Terra Imóvel, O Seu a Seu Tempo e Dezanove Recantos. A propósito deste último livro, fala de “uma revolta das palavras (...) apelando para um novo discurso” (A Capital, 16 de Abril de 1969). Regressa definitivamente de Paris em 1970, passando a dedicar-se com regularidade ao trabalho de tradução, quer para casas editoras, quer para companhias teatrais. Escreve os diálogos de vários filmes portugueses, ou neles colabora. Quer como tradutora, quer como autora de textos para cinema, quer ainda como adaptadora para teatro (O Fatalista de Diderot, espectáculo criado por Osório Mateus, em 1978), granjeia um enorme prestígio, pela reconhecida qualidade excepcional do seu trabalho.

Casa com Manuel João Gomes, de quem terá o seu filho único, Dinis, nascido em 1973.

Em 1973, publica uma recolha de toda a sua poesia, intitulada Os Sítios Sitiados, na qual inclui algumas secções inéditas e o poema, que tivera já uma edição autónoma, ilustrada pelo pintor Jorge Martins, O Ciclópico Acto (1972).

No início da década de 80 é produzido para a RTP (série Artes e Letras) e realizado por João Roque um filme de cerca de quinze minutos, em que Luiza Neto Jorge é entrevistada e lê o poema “Fractura”, escrito em 1980 e dedicado ao pintor José Escada, recentemente falecido.

A partir de 1984, surgem alguns poemas em revistas, nomeadamente na Colóquio/Letras, nºs. 78 (Março de 1984) e 97 (Maio-Junho de 1987), e Pravda nº 6 (1988), onde aparece, pela primeira vez, com incorrecções no 1º verso da 2ª estrofe, o poema “Minibiografia”.
Depois de mais de dez anos sem publicar nenhum livro, edita, em 1984, em circuito privado, um livro artesanal, constituído por manuscritos policopiados e intitulado 11 Poemas, com onze desenhos de Jorge Martins, de que foram tirados 100 exemplares.

A sua doença respiratória crónica agrava-se seriamente, fazendo-a depender do consumo de oxigénio durante um número cada vez maior de horas e obrigando a vários internamentos no Hospital Pulido Valente. Vem a morrer, a 23 de Fevereiro de 1989, no Hospital Curry Cabral, para onde fora transferida.

Em Maio do mesmo ano, é publicado o livro póstumo A Lume, que deixara ordenado, mas iria exigir uma difícil fixação do texto, devido às inúmeras emendas e rasuras existentes no original, trabalho realizado por Manuel João Gomes.

Em 1993 sai, em edição organizada por Fernando Cabral Martins, o volume Poesia, onde se encontra reunida toda a sua obra poética (Assírio & Alvim).

 
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