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O presente número, sob o signo da “Poesia e cinema”, surge na continuidade do dossier “Poesia e artes visuais”, coordenado por mim, na Relâmpago, n.º 23, de Outubro de 2008. O formato é similar. Ao particularizar-se o âmbito da relação entre as artes, não se pretendeu, contudo, circunscrever para alargar e, com isso, alcançar uma qualquer sorte de completude. Até porque, mais uma vez, está bem longe desta proposta a ideação de perspectivas panorâmicas ou antológicas.

Como no número 23, também agora o espaço foi partilhado por poetas brasileiros e portugueses; também agora se acolheram, à entrada, poemas e depoimentos. O que se pediu aos colaboradores, desta vez, foi um poema inédito, inspirado num filme, ou um poema que tivesse uma ligação ao cinema; e ainda um depoimento sobre o poema enviado ou, mais genericamente, um texto breve sobre a relação entre poesia e cinema.

Tantas vezes referido neste número, Herberto Helder falou como ninguém do fulgor poético e cinematográfico, da inspiração que é minúcia e rigor: “O poema, o cinema, são inspirados porque se fundam na minúcia e no rigor das técnicas da atenção ardente”. Herberto escreveu isto num texto intitulado “Cinemas”, publicado num dos primeiros números da Relâmpago (n.º 3). O texto tornou-se um lugar de referência, quando pensamos nos diálogos entre poemas e filmes, quando queremos falar dos “processos de transferir blocos da vista – aproximações, fusões e extensões, descontinuidades, contiguidades e velocidades”.

Múltiplas aproximações, múltiplas articulações: é o que aqui vamos encontrar nos poemas, nos depoimentos, nos ensaios, no depoimento que é poema ou no poema-depoimento. Múltiplos os modos de circulação: palavras, imagens, sons. Cinema, poema.


CARLOS MENDES DE SOUSA

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