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ESTAÇÃO RELATIVAMENTE BALNEAR
DANIEL JONAS
POESIA
N.º 35
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Alguns chamam-se Ema.
E quando a conversa se esgota
recorrem ao telefone
evitando o silêncio das cigarras
como uma igreja caiada
ao sol exterior
em defesa de uma beata
persignando-se
no negro.

Outros são barulhentos
mas dois minutos depois
arranjam um altercação familiar
e os quatro ou cinco irmãos neutralizaram-se
fraternal e conjugalmente
e o silêncio regressou
às cigarras.

Assim impassível a areia
apesar de pisada.

Num momento ou noutro
tudo será decidido.
E talvez esquecido esteja já.
No expoente da dor o equinócio
da rasura.

As estações sucedem-se
como as vagas.
Parecem repetir-se indefinidamente
mas já morderam o sopé das falésias,
deixaram pedras no lugar da areia,
investem sobre o teu mais velho
e na próxima estação,
se tudo correr bem,
já não o irás encontrar.

As tuas mãos em concha
não chocaram nenhuma Vénus,
tampouco o poderão preservar
e isso é tristeza em linha de montagem.

Qualquer dia é um bom dia para um suicídio.
A dissonância deixará a sua marca.
Uma concha fendida
que procuras desenterrar
das sisudas rochas
como se às conchas
avistasses
a tua mão desirmanada.

 
Relâmpago n.º 35
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